quarta-feira, 9 de agosto de 2017

A Estrela dos Outros Alegra Minhas Galáxias ou Texto que No Final Gira Enquanto Fala de Rodas ou Shine On You Crazy Daimon!

Ás de Copas como a Morada do Verbo Prometeico. Montagem Minha.

Ontem uma pessoa puxou um papo comigo no chat, para me falar sobre o meu trabalho e tirar algumas dúvidas. Lá pro fim da prosa, ele me disse que eu sou muito vanguardista, que ***** tem um trabalho melhor, mais "tradicional", e me passou um link para um vídeo de *******. Bueno, em primeiro lugar, foi uma grata surpresa ver o trabalho de ******! De fato, era um vídeo super bem feito, muito claro e coerente, onde o colega inclusive alerta contra os significados fixos das cartas. Bom, segundamente, gente, cuidado com este termo, "tradicional" usado para denotar "oficial, correto, mais verdadeiro", pq via de regra nisso aí só cabe uma coisa, e exclui todo o resto. A tradição é um rio caudaloso de várias vertentes, sempre em movimento. Geralmente, quem usa o tarot como oráculo, só por isto já está inserido no movimento de uma tradição. Vejo o tarólogo-cartomante como um tradutor e um trazedor, alguns, como Pound, ainda brincariam com tradittore, alegando que traduzir é em certa medida praticar algumas "traições". Augusto de Campos nomearia este trazer-traindo: intra-dução. Entenda-se por trair, aqui, negar-se ao movimento, à dança, em nome de uma pretensa fidelidade, letra morta. Cartomantes são parentes de Hermes, condutores por excelência. No Arcano VII está o nosso retrato. Então, tanto eu como os demais colegas cartomantes, trazemos/traduzimos algo, somos trazedores.

 Terceiramente, cuidado com isso de ficar instigando a rivalidade entre as pessoas, isto não é legal.

 Bom, quartamente, pessoal, a ideia de que os arcanos numerados são desdobramentos dos Ases, que são as Raízes de energias elementais/anímicas e forças da natureza foi veiculada e popularizada pelos autores ocultistas do séc. XIX pra cá, sobretudo numa vertente da Kabbalah, a Kabbalah Hermética, os Ases são Kether do mundo mais elevado, Atziluth, e energizam todas as outras árvores da vida, são o Primeiro Motor, ou Primeiros Redemoinhos. Eu acho isso uma fonte riquíssima de metáforas e insights, isso não SURGE com os ocultistas do séc. XIX, estes apenas aproximam mais estreitamente tradições metafísicas com o Tarot, e isso com certeza permeia as minhas leituras. Vejam bem que eu não estou negando que o colega seja tradicional, estou afirmando que eu, ele e todos nós tarólogos e cartomantes temos os nossos trabalhos permeados pela tarologia veiculada no século XIX, pq amados, TODA tarologia oracular de hoje toma forma aí, ou pelo menos é o que apontam as pesquisas sérias. Sabem quantos livros medievais sobre divinação com as cartas nós temos? Nenhum. Isso não quer dizer que a tradição do Tarot começa no século XIX, nem que a atividade da cartomancia começa ali. Inclusive, quando ressalto que por séculos a fio o Tarot foi (e é) utilizado num jogo que lhe deu o seu nome, além de ser objeto de jogos poéticos, como o Tarrocchi appropriati, não é com o objetivo de defender que a cartomancia é uma bobagem que surgiu nos revivals da magia do século XIX, como fazem alguns autores cientificistas. O objetivo é nos conectar a estas práticas, e tornar-nos conscientes de que o que fazemos é mais um dos jogos possíveis de serem feitos com as cartas. Isto de maneira alguma esvazia a cartomancia, ou a desencanta. As pessoas que faziam e jogavam os baralhos, também tinham sua dimensão espiritual, e com certeza o impregnaram com isso. Em alguns jogos de trunfos, os Ases são cartas imbatíveis, é como se as criaturas (demais cartas), não fossem capazes de vencer seus criadores, os Ases. Na vasta maioria dos jogos os Ases começam as sequências, a letra que o representa é o “A”, que por sua vez também inicia os alfabetos. Para vibrar um “A”, temos que abrir bem a boca, e emitir o som mais aberto de todas as vogais, e para pronunciar o “Z”, fazemos um som que em alguns idiomas vibra, em outros silva, se a pronunciamos de maneira vibratória e demorada, nossa cabeça trepida, é a existência a trepidação do Verbo Original e monocórdio? A palavra “Ás” e “Ace” possui os dois fonemas que abrem e fecham os alfabetos de parte dos idiomas. Em algumas metafísicas orientais, o universo abre com “Ah!” e materializa-se com “Hum!”, em alguns templos japoneses podemos ver esta representação nas figuras de Agyo (boca aberta, Ah!) e Ungyo (boca fechada, Hum!).


Agyō 阿形
Ungyō 吽形
Isto nos remete ao Alfa e Ômega, o formato gráfico do Ômega nos lembra o Tav (ת, Th), última letra do Alefbet, o alfabeto hebraico, que representa a existência consumada. Na Alquimia, da qual eram íntimos os Imagineiros que traçaram os Tarots medievais, este nadatudo é representado pela palavra Azoth, onde vemos o A e o Th mediados por uma Roda (o), ser/não-ser num baile perpétuo (Dançarina d’O Mundo?), ritmo, sístole-diástole, fluxo-refluxo, se você contemplar isso junto com o poema nascemorre  de Haroldo de Campos, as cartas O Louco, Roda da Fortuna e O Mundo, mais o ensaio Signos em Rotação de Octavio Paz, e um som instrumental do seu agrado (sobretudo Jazz, Clássica, Prog ou Post-Rock) lhe garanto que muitos insights virão, e continuarão brotando como as águas perpétuas do Ás de Copas de Pamela Smith, outras vezes os insights explodirão na sua cara como no Ás de Copas de Harris-Crowley, outras vezes você se sentirá veículo do Verbo, como o Ás de Copas do Marselha. Perceberam o que eu estou fazendo? Estou jogando com as comparações e aproximações. Aliás, um dos momentos máximos da linda aula do competentíssimo colega acima citado, é quando ele diz que o “Tarot não é uma ciência exata, é uma atividade comparativa.” Ah quem me dera ter este poder de síntese!

 Cada um cria suas manhas, suas comparações, cada um tem seu jogo (como na Capoeira, essa luta circular). Mais acima eu falei no Ás de Copas do Marselha como análogo à ideia de veículo do Verbo. Alguns podem ter achado esta comparação aleatória, mas não é. É que no meu trato com os tarôs mais antigos, eu gosto de usar como tempero o contexto histórico da concepção da carta. No caso do Ás de copas, esta bela catedral/cálice é um Ostensório, um instrumento da liturgia católica, utilizado em procissões para transportar a hóstia consagrada, nada menos que o próprio Corpo de Cristo, presente no Ostensório pelo mistério da transubstanciação. Este é o meu jogo
.

Ostensório Medieval


 Eu acho curioso que algumas pessoas vejam no termo “jogo” algo que acarreta demérito ao Oráculo. Para boa parte das escolas, o Universo é um jogo, e boa parte das nossas aflições está em termos criados barreiras entre nós e o jogo, em não nos vermos como parte dos Ritmos Universais. Bueno, antes que isto aqui se estenda ao infinito, encerro com o “quintamente”: eu amo ler os trabalhos de colegas tarólog@s e cartomantes, poucas coisas fazem vibrar minhas notas quanto sentir a vibração das notas dos outros, as dissonâncias e consonâncias geradas por esta atividade incendeiam a minha imaginação e deixam a minha criatividade sempre em movimento, afinal sou aquariano e gosto de vento. Por falar em vento, no próximo texto divagarei sobre o Ar, aí depois solto os devaneios Cabralinos.


Salud!
Bons Jogos!

Rafael Medeiros

ps.: Este texto não expõe ninguém, fiquem despreocupados, a pessoa que me procurou no chat, após as minhas respostas, simplesmente me bloqueou!


Coelhos Brancos & Trilhas de Farelos

Universo enquanto ritmo para a Kabbalah >>>> Tzimtzum

Universo enquanto ritmo para o Hinduísmo >>>>Lila

Universo enquanto ritmo para o Taoísmo >>>> Yin Yang

Livro "A Vida Como Jogo", de Alan Watts >>>>La Vida Como Juego

Sobre o Tarocchi Appropriati >>>> http://trionfi.com/0/p/28/

Sobre o Jogo do Tarot >>>> http://trionfi.com/0/p/

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Blues do Exílio






tanto grudou os olhos
na tela do celular
que ficou do formato dela,
e entre passos lentos, atrapalhados,
perde o pulso
míngua o grito,
perde a sanha, as manha
de andar no Cosmos,
seu próprio lar,
cê fica mais finito,
a cada manhã
esquece que Sol
é sua irmã,
e não escuta,
por mais que Ela grite:
- Levanta esse olhar! O Céu é o deslimite!

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Tarô em Transe



Falemos de Cabala. Calma, não tomarei preciosos minutos do seu tempo falando sobre tabelas que você já conhece, encontráveis em dez mil livros e páginas da internet. Falo aqui de Cabala como cavalo alucinógeno que nos carrega ao longo das imagens e letras. Um dos sentidos de “Kabbalah”, em hebraico, é “receber”, então vamos pegar apenas isto da etimologia séria, e tragamos aqui para o nosso mundo fluido de delírios filológicos e etimologias imaginárias. Aqui Cabala é “cavalo” e “receber”, e também ser cavalgado, ser veículo de mensagens sagradas.
Cabala, assim com “c”, é um termo usado por Fulcanelli para um uso especial da linguagem, o uso de similaridades fonéticas e outras técnicas, para expandir a riqueza semântica das palavras e símbolos. Isto está profundamente relacionado com a Língua Verde, ou Linguagem dos Pássaros, dos alquimistas. Alguns, ao longo do tempo, chamaram isso de “Cabala Fonética”. Eu gosto muito deste termo, embora não goste de me limitar aos sons.
Sendo honesto com você, isso de combinar a forma das palavras, suas homofonias e rimas com etimologias reais e imaginárias visando expandir o campo semântico das palavras quer dizer uma coisa: cair em transe. Não um transe convencional, daqueles que geram dissociação total, verdade, mas ainda assim um estado peculiar de percepção, que vai sendo afiado com o tempo de uso, como uma espada. Em outro texto falaremos de espadas. Este estado de percepção nos permite “receber” mensagens, e enxergar coisas que não estavam ali antes. Isso pode nos levar a vermos o que não estava ali antes nas nossas vidas também, nos nossos problemas e questões. Trata-se de magia simpatética old school, e um tipo interessante de vidência, e como não se trata de um sistema, você pode aplicar a qualquer coisa, inclusive cartas de tarô. Não estou aqui falando apenas com profissionais da cartomancia, tampouco dando “dicas” que só servirão para os que leem cartas profissionalmente. Estou falando com toda e qualquer pessoa que deseje extrair mensagens de cartas de tarô. Também não estou colocando-me como inventor, estou aqui no máximo como transmissor, e nem sou dos melhores. Não sou um Senhor das Chaves Arcanas, estou mais para um amigo que no meio de uma partida de carteado diz, “ei! Sabem aqueles trocadilhos do tio José? Dá para ler cartas com eles!” Não se trata de inventar a roda, se trata de curtir a vertigem da rotação dos signos, e perceber as inusitadas formas que surgem quando as coisas se embaralham. Trata-se de dizer que ventilador é um aparelho mágico que sopra o nosso coração quando ele está ferido, com dor. Como aplicar a Cabala Fonética ao tarô? Bom, eu ainda estou descobrindo isso, mas o primeiro passo é ampliar a percepção para além da fonética, a abrir-se para todo tipo de rimas e ritmos que possam ser conectados. Por exemplo, você está diante de uma questão sobre o fim doloroso de um relacionamento, e a Roda saiu. A roda gira, o que remete a movimento, ciclos, e também tem associação com um instrumento de tortura, o que nos leva a dor, o formato da roda nos lembra do ventilador. A dor do consulente precisa ser ventilada. Se depois da Roda vem a Estrela, temos um moinho (moer, re-moer). Quem alimenta esta Roda? Este giro? Esta dor? Podemos responder estas perguntas com a terceira carta.
O baralho que mais dialoga comigo quando aplico este modo de leitura é o Tarot de Marselha. Eu realmente não sei ao certo se alguém criou estas imagens para funcionarem assim, digo, imagem por imagem. Existem migalhas no caminho para você encontrar respostas, Compagnonage, caleidoscópios, imagiers medievais, catedrais góticas, vitrais góticos, alquimia, Fulcanelli etc., o que percebi até agora olhando para as cartas, é que há um jeito de fazer imagens que simplesmente faz com que as conexões surjam. As simetrias, olhares, posturas, descontinuidades, incompletudes. Se você chegou até aqui com esperança de que este texto ficaria mais sério, acadêmico, ou “profundo”, sinto te decepcionar, tratam-se de divagações, e as divagações continuarão em outro texto. Por hora, se você quiser entrar em transe com o seu baralho, sugiro algumas coisas:

1.       1. Leia O Castelo dos Destinos Cruzados, de Ítalo Calvino, e logo depois de terminada a leitura, coloque 3 cartas em sequência, melhor que a primeira tenha uma figura humana, feche a sequência com um Arcano Maior, e escreva um conto à maneira dos contos do livro. Eu fiz isso na primeira vez que li este livro, até hoje não sei o que me deu aquele dia, mas passei a noite em claro escrevendo como um louco com as cartas diante de mim. Os contos não precisam ser obras primas, trata-se de um exercício.

2.      2.  Faça estes exercícios bolados por Enrique Enriquez, http://www.tarotforum.net/showthread.php?t=102599

3.      3.  Pratique este pequeno método para afiar os olhos, http://tarot-historico.com.br/?p=871

Isto não irá te fazer abandonar tudo que você acumulou até aqui, nem entrará em choque com nada na sua prática oracular, pois não se trata de um sistema. A sua caminhada e aprendizados são únicos e preciosos. Isto aqui só irá deixar tudo mais divertido, e irá afiará os seus olhos reais e imaginários. E por falar em afiar, no próximo texto, farei algumas aproximações entre o tarô e a poética agudíssima de João Cabral de Melo Neto. Mas não se esqueçam, serão apenas devaneios...

Hasta luego!
Hasta fuego!

Hasta Juego!

rafael medeiros

sexta-feira, 4 de agosto de 2017


























Diabo sem laço,
sem rédeas,
 sem regras. sol solto no espaço,

 quem desfez a corda?
abre todos os olhos, acorda!

 - gente que faz acordo com ele, moço,
e concorda de adorar até o fim.

 há divisão entre você e mim?
Diadorim...

 disfarce de mago
ou face real
de quem cansou das cascas
 e assumiu os cascos?
 Klic! Pot! Klic! Pot! Klic! Pot!

 ah! sumiroslaços!


 alcança o que
quem perde as estribeiras?
a terceira beira?

 o que é que há além de nós?
 alma é tudo ou detalhe?
quanta alma nesta casca cabe?

 o Diabo é quem sabe!

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Poema: Rafael Medeiros
Imagem: Tarot Furtado, desenvolvido por João Acuio.
Luzes: Sol
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Nota: A onomatopeia "klic! pot!" foi empregada para reproduzir o som de cascos, e os estalos de cascas rompendo-se sucessivamente. Isto está em relação com o conceito cabalístico de "Kliphot", cuja tradução literal é "casca". Para ajudar no efeito poético-alucinógeno, sugiro que se pesquise sobre Kliphot, tanto para a Cabala tradicional quanto para a Hermética. Aqui vai um link que pode servir como start: http://cabalaportugal.blogspot.com.br/2010/03/terminologia-cabalistica-klipot.html

Dobrar o ouro, ou ver dobrado unindo os olhos num ponto. Tentar refazer a mesma bolha, Transmigrar de globos. Ouro de bobo: seduz, mas s...